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Minha mãe, vitima de um cristianismo (com C minúsculo mesmo) hipócrita

28 maio

Alguns textos são difíceis de escrever. Em certas ocasiões, expressar decepção e amargura por acontecimentos que fogem de nossa alçada é algo difícil de descrever. O fato se agrava quando envolve parentes próximos. Você agarra-se com afinco a fé que você possue em Deus e espera contar com ombros que Ele determinou que estivesse ao seu lado..

Minha mãe está doente. Guerreira, lutadora, crente até o último fio de cabelo, está internada desde terça-feira no Hospital Samaritano em Campinas. Com diabetes, hipertensão e uma perna amputada devido às consequências da doença, ela exibiu sintomas estranhos, como a da dificuldade de se comunicar e montar frases complexas e coerentes. Desde então, cada visita do médico, cada diagnóstico realizado é um sopro de esperança para que ela retorne aos bons tempos, quando não tinha medo de sair a luta e criar com determinação dois filhos, dar suporte ao meu paí e de quebra pagar dois cursos superiores. Isto no tempo que não existia Pro Uni, bolsa de estudos, etc e tal. Ao mesmo tempo, ela nunca deixou de passar conceitos cristãos, de frequentar a igreja e passar uma ideia básica: vale a pena ser honesto em um país marcado pela ambição desmedida, individualismo e falta de amor próprio.

Nunca a vi criticar qualquer líder religioso ou mesmo a instituição igreja. Pelo contrário. Guarda Cristo no coração mesmo quando está muda. Tenho certeza de que sua fé está intacta. Diante disso, sinceramente, minha expectativa era que existisse um mínimo de retribuição por tanta dedicação. Não por parte Dele, que conhece o coração de todos e tem o galardão dela separado. Porém, nutria a expectativa de que uma centelha de solidariedade existisse nas almas que frequentam as centenas e milhares de igrejas espalhadas pelo país. Quebrei a cara.

Desde que nosso drama começou, posso dizer que posso contar com minha esposa, Elaine, minha irmã (uma guerreira ao desdobrar-se para cuidar do meu pai, que também necessita de cuidados e do meu sobrinho) e de uns poucos parentes fiéis e solidários.

Olho para minha mãe e fixo a alma na porta do quarto do hospital, na esperança da presença de um pastor, missionário, guia leigo…não sei, qualquer coisa. Uma visita que durasse nem que fosse cinco minutos, mas trouxesse consolo e conforto para pacientes e parentes em instante difícil. Nada acontece. Nem uma visita ou qualquer sinal de solidariedade. Mandei mensagens, recados para amigos e conhecidos e as vezes penso que pecado ela, minha mãe, cometeu para receber em troca tamanho desleixo e desprezo. Ou passo a refletir sobre onde errei. Sinceramente, eu trocaria todos os churrascos, festas de aniversários e confraternizações com pessoas da igreja por um único gesto de compaixão. Faria uma diferença tremenda. Tratamento médico não se faz com remédios e diagnósticos sombrios. Amor conta e muito.

Tenho sentido na pele o conceito de que a alegria é coletiva e o sofrimento é solitário. Mesmo assim, as pessoas dizem que miro minhas criticas na instituição igreja. Que não sou dotado de flexibilidade para entender que os homens falham e que Deus é perfeito.

É a pura verdade e confesso que ás vezes exagero e passo da conta. Mas aquilo que sinto e vivo não é reflexo de noticias de jornal, rádio ou televisão. É uma simples constatação: em pleno século 21 vamos à igreja atrás de riqueza, prosperidade, construção de casamento, emprego de alto quilate ou poderes extra-sensoriais. Ou simplesmente aparecer no programa de televisão pago pela denominação. Não queremos nos envolver com problemas, doenças, sofrimentos, decepções e frustrações alheias. Frequentamos à igreja para sermos super heróis e não pessoas dotadas dos sentimentos nobres perpetuados por Cristo como solidariedade, amor, mansidão, etc…Nesse cenário, os mais frágeis ficam desemparados. Entendam: não quero paparicação ou grude em minha mãe, uma senhora que nos áureos tempos desdobrava-se em dois empregos para ajudar no orçamento da casa. Minha súplica e apelo é único: que nos ambientes com ar condicionado, bancos estofados, homens engravatados, mulheres bem vestidas e carros importados na garagem, ela passe a existir. Que o conceito de comunhão seja pleno em toda a qualquer circunstância.

Por enquanto, minha mãe só não é uma vitima completa porque tem o amor dos filhos, parentes e de Deus. Tomara que isso seja suficiente. Por outro lado, que outras pessoas que dedicaram tanto sua vida a obra de Deus não recebam em troca o desprezo dos seus semelhantes.

 
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Publicado por em 28 de maio de 2011 em Uncategorized

 

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