Ricardo, Gustavo, Fábio, André, Wanderley, Juliana, Paulo, Veronique, Carolina, Camila…Para você, esses nomes podem não possuir significado nenhum. É natural e compreensível. Mas quando leio e escrevo tais palavras, traduzem um sentimento nobre e profundo chamado amizade. É interessante como o conceito ficou desgastado com o passar dos anos. Não temos paciência para ouvir, compartilhar, trocar idéias e oferecer o ombro na hora do sofrimento. Seja qual for a circunstância.
Com eles, posso dizer que preservei os conceitos básicos de amizade: cumplicidade, solidariedade, preocupação com o próximo…algo que vai além de triunfos financeiros e profissionais.
O começo foi na Faculdade. Década de 1990, duvidas pairando no ar e decidi cursar jornalismo na pior hora: confisco bancado por Collor, recessão brava e pais com renda mensal de 3 salários mínimos. A desistência seria o caminho natural. Conforme os dias passavam, a estadia na faculdade ficava certa. Por dois motivos: achei a profissão que desejava e encontrei pessoas em quem me apoiar.
Algumas gozavam de estabilidade financeira muito maior do que a minha, típico representante da classe média baixa que deseja intrometer-se na festa da elite. Mas nunca, jamais, em tempo algum fui vitima de qualquer preconceito. Pelo contrário, recebia incentivo, elogios, críticas construtivas e companheirismo para completar a jornada.
Foram anos mágicos e que culminou com a maior surpresa da minha vida. Dez dias antes da formatura, planejava fazer um almoço em família para comemorar. Não tinha dinheiro para pagar uma festa de formatura e nem para participar do baile. Até que resolvi passar na Faculdade para pegar alguns documentos e ali a presidente da comissão de formatura disparou: “A turma faz questão de contar você ali. Não precisa pagar nada”. A felicidade não foi pelo lado financeiro e sim por saber que em quatro anos não fui um mero participante de uma classe ávida por exercer o jornalismo. Virei um amigo. Que tem qualidades e defeitos. E que é aceito por todos.
O tempo passou, o destino levou cada um para um lado, mas os laços continuaram. Lembrar de Ribeirão Preto é pensar no Paulo e no Gustavo. Curitiba remete ao Ricardo, ao Marcus Vinicius. São Paulo é base de Carolina. Em Campinas, não tenho do que reclamar. Juliana, Wanderley, Veronique…todos a postos, prontos para estender a mão, a exercer este sentimento nobre sem querer nada em troca.
Para homenagear a todos, quero relembrar apenas um episódio: em 1997, minha irmã teve um acidente sérissimo de automóvel na estrada de Piracicaba. Fui comunicado e na época trabalhava em um jornal da cidade. Tinha urgência de encontrar-me com meu pai para me dirigir-me ao hospital e verificar como tudo estava. O plano inicial era utilizar o ônibus de linha. Pois ao saber do ocorrido, o Gustavo só não levou eu e meu pai a delegacia, ao local do acidente e ao hospital municipal, como deixou minha Irma na porta da minha casa. Sem exigir nada. Atitude de gente com coração de ouro.
Sábado a gente se reuniu novamente. Foi pouco tempo, é verdade. Mas foi bom saber que ao lado dessa turma recebi novos presentes: a Angela, a Lenise, Gabriela, André, a Fabi…Gente que não te conhece, mas que lhe ama. Sem pedir licença. Ao seu lado, as crianças, sem pudor em brincar, questionar e relembrar que aquilo que foi plantado há 20 anos continuará perpetuamente no coração e nas mentes de outras pessoas.
Engraçado, um dia me falaram que o casamento tem um lado ruim: tira os seus verdadeiros amigos do seu convívio e que o jeito é partilhar a solidão a dois. Tenho sorte grande. Quanto mais o tempo passa, maior fica a obsessão de que todos de RA 91 sejam felizes. Aliás, não é só pensar. É falar… Nos dias de hoje, permeados pelo individualismo e amizades descartáveis, contar com pessoas desse naipe é benção divina. Em tempo algum, nenhum deles utilizou o casamento para justificar um possível afastamento ou distância. Pelo contrário: todos que chegaram foram agregados, como uma família que não para de crescer.
Opa! O telefone toca e o MSN dá sinal de alerta. Certamente, alguém quer me desejar boa semana. Combustível de vida de longa duração.
Observação: Hoje, excepcionalmente não teremos artigos sobre política ou esporte. Ás vezes celebrar os fatos simples da vida faz um bem danado.